Lição 01 - O Estado Teocrático no Antigo Testamento

"Eu digo: Observa o mandamento do rei, e isso em consideração para com o juramento de Deus" - Eclesisastes 8.2


Texto Bíblico Básico? Deuteronômio 17.14-20

TEOCRACIA

Resultado de imagem para teocraciaPalavra que vem de dois termos gregos, theós, “Deus”, e kratéo, “governar”. Isso chega ao sentido de “governo de Deus”. Devemos fazer distinção com outro vocábulo, democracia, cuja primeira porção, demos, significa “povo”, e que indica o governo entregue às mãos do povo. E também devemos distinguir teocracia de hierocracia, o governo dos sacerdotes. E, finalmente, de monarquia, o governo de um único homem ou rei.


Embora a ideia de teocracia apareça nas Escrituras, com bastante frequência, o próprio vocábulo, “teocracia”, nunca figura ali. Essa palavra parece ter sido cunhada por Josefo (vide), que se utilizou do termo a fim de referir-se ao caráter impar do governo dos hebreus, revelado a Moisés, em contraste com o tipo de governo de outras nações ao derredor. Escreveu Josefo: “Nosso legislador... ordenou aquilo que, forçando a linguagem, poderia ser chamado de teocracia, ao atribuir a autoridade e o poder a Deus” (Contra Ápion, II, 165).

Não obstante, a ideia de teocracia é muito mais antiga do que a palavra que corresponde a ela, conforme o próprio Josefo sugeriu em sua declaração, citada acima. Essa ideia retrocede ao Antigo Testamento desde a época de Moisés e, portanto, à iniciação mesma das Sagradas Escrituras (ver Êxo. 19:4-9; Deu. 33:4,5). No âmago dessa ideia fica a relação ímpar entre Deus e Israel, como seu povo peculiar. Essa relação é constituída pela aliança que vinculou o povo de Israel a Deus (ver Êxo. 19 e 20), e que constituiu aquele povo em ”...reino de sacerdotes e nação santa...” (Êxo. 19:6).

Deus reclamou o povo de Israel como sua propriedade, por havê-los remido da servidão aos egípcios. Os grandes atos libertadores, da época da saída de Israel do Egito, e durante os quarenta anos de vagueação pelo deserto, declararam o Senhor como o eterno Governante de Israel (ver Êxo. 15:18). Moisés foi, tão-somente, o homem por intermédio de quem Deus transmitiu a sua vontade ao seu povo terreno.

Gideão, várias gerações depois de Moisés, aceitou a coroa, porquanto acreditava que somente Deus poderia governar sobre Israel (Juí. 8:22,23). No período que antecedeu ao surgimento da monarquia em Israel, profetas, sacerdotes e juízes foram os intermediários na expressão da teocracia. Vale dizer, Deus governava o seu povo através daqueles representantes. Assim na guerra de Israel contra Sisera, a profetisa Débora e o juiz Barauque aparecem como os agentes do livramento de Deus (Ju 4:4-7). Os sacerdotes levitas também aparecem, com frequência como os mensageiros da vontade divina (Juí. 20:28; I Sam. 14:41). Mas por ocasião da teocracia institucionalizada, quando surgiu a monarquia em Israel, a teocracia passou a se manifestar de forma muito menos direta, e o governo de Israel passou a assemelhar-se mais ao governo das nações gentílicas. ”Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram a ti, mas a mim. para eu não reinar sobre eles... Porém, o povo não atendeu à voz de Samuel, e disseram: Não, mas teremos um rei sobre nos. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós. e fazer as nossas guerras”’ (1 Sam. 8:7 19.20). Apesar disso, depois que a monarquia se estabeleceu em Israel, principalmente de Davi em diante, o rei passou a ser considerado símbolo do reinado teocrático. Os reis de Israel não eram apenas reis, no sentido comum do termo, mas também eram ungidos do Senhor, em sentido puramente teológico (Sal. 2:2; 20:6), um príncipe do Senhor (I Sam. 10:1: II Sam. 5:2). Mesmo durante o Deríodo monárquico, concebia-se que o Senhor Deus seguia adiante do rei em 2 Sam. 5:24” O rei estaria sentado no trono de Deus (I Crõ. 29:23; cf. 28:5). O Governante real era Deus, e a autoridade do trono de Davi derivava-se do Senhor. A natureza teocrática da monarquia de Israel é conformada, por exemplo. pela prerrogativa dos profetas de destronarem os reis além do tato de que foi o profeta Samuel quem estabeleceu o reinado em Israel, a mandado do Senho' (I Sam. 15:26; 16:1,2; cf. I Reis 11:29-31: 14:10; 16:1,2,21:21). Nesse contexto, nota-se que não havia critérios estereotipados para reconhecimento ou confirmação de um profeta, em Israel. Somente a presença do indefinível Espírito de Deus revelava a diferença entre um profeta verdadeiro e um profeta falso.

A monarquia, em Israel, foi a organização de algo teocrático sob um governante humano. A teocracia talvez encontre sua riais excelente expressão nas predições dos profetas (ver Jer 1:1,2; cf. Isa. 7:7). As visões messiânicas dadas aos profetas foram organicamente entretecidas na curva da história dos reis de Judá, bem como na restauração final da dinastia davídica. Em sua essência e em seu intuito, o reino é um instrumento ;e redenção, inseparavelmente vinculado às expectações messiânicas. De fato. em seu sentido messiânico, o trono de Davi aparece no centro da teologia bíblica, com seu reconhecimento de Deus como o Governante final sobre a terra inteira. Dentro da revelação progressiva da escatologia bíblica, o conceito teocrático do reino davídico suprimiu o padrão das ideias concernentes à vinda palpável do reino de Deus. quando da era milenar. Através da restauração do trono de Davi, Deus haverá de realizar a redenção final de Israel. Mas, esse futuro acontecimento, que fará parte da história, haverá de introduzí-la era da justiça e da paz eternas sob o reinado universal do Filho maior de Davi, Jesus Cristo.

A MONARQUIA É INSTAURADA EM ISRAEL


Para definirmos monarquia, utilizamos Balancin que diz o seguinte:
“A palavra monarquia quer dizer “governo de uma só pessoa”, isto é, do rei. Ele possui toda a autoridade em suas mãos. É ele quem faz as leis que devem ser observadas e, ao mesmo tempo, é o juiz que decide e dá a sentença. O rei é chamado de “pai da nação”, e é considerado como o representante de Deus na terra. As suas decisões são as decisões do próprio Deus.
Quando um rei morre, ele é substituído no poder por um de seus filhos. Essa sucessão de pai para filho no trono chama-se dinastia. Assim, uma só família se perpetua no governo do país, a não ser que haja revolta; e então começa a governar outra família ou dinastia. A dinastia de Davi foi a que mais durou em Israel.
A cidade na qual o rei mora se torna a capital do país. Aí fica o palácio real, a corte, isto é, a família real e os administradores, ministros, oficiais. É também nessa cidade que é construído o templo principal ou único, para indicar que Deus está sempre perto do rei, que é seu representante.” (BALANCIN, História do Povo de Deus, Paulus, 1989, p. 20)
Antes que a monarquia fosse estabelecida como sistema de governo, o povo de Israel vivia sob o tribalismo, que segundo Schwantes[1], foi a fusão de diversos povos vindo de Canaã e seminômades, trabalhadores do Egito e gente do Sinai, criaram um sistema de governo sem governo, pois não havia opressor, rei ou faraó e esse sistema se estabelece nas montanhas. A principal característica dessa sociedade segundo Schwantes é a unidade na descentralidade, pois as tribos se dispersam pelas diversas regiões da palestina, mas mantém a unidade em torno de Javé. Nessa “sociedade alternativa”, a distribuição era feita de forma equitária, ou seja, não era igual, mas era feita de forma justa e isso é algo que vai além da igualdade, acompanhe o conceito proposto por Balacin.
“A tribo é uma organização social composta por famílias agrupadas em associações protetoras, a fim de ajudarem economicamente uma às outras, se defenderem dos ataques inimigos e praticar a religião.
A família é composta de 40 a 50 pessoas, compreendendo sem pais, filhos, tios, primos e parentes, que vivem em casas vizinhas. O chefe é o pai ou avô (ancião), que decide as questões, funciona como sacerdote, arruma casamento para as jovens, etc. todas as pessoas que pertencem à família (chamada casa do pai) são tratadas como irmãos. A associação protetora, composta de umas 50 famílias, é coordenada pelos chefes de família. Esta associação presta auxílio às famílias que, por algum motivo, passam dificuldades econômicas; reúne pessoal para defender a região onde moram; organiza celebrações religiosas e festas comuns, e realiza acordos matrimoniais.
Essas famílias e associações, com experiências comuns de opressão e lutas, se unem em uma entidade mais ampla chamada tribo, e vivem em região separada por causa do terreno ou floresta, onde exercem ocupações agrícolas e pastoris. A tribo também realiza assembléias, festas; decide fazer guerra ou acordo de paz, resolve questões jurídicas, faz distribuição fraterna da produção anual, etc. essas experiências comuns fazem com que as pessoas da mesma tribo se considerem irmãos e, por isso, procuram encontrar um antepassado comum a todos eles, mesmo que precise ser inventado.
É interessante comparar a organização da tribo com a organização da cidade-estado.” (BALANCIN, História do Povo de Deus, Paulus, 1989, p. 16)
Outro ponto importante do tribalismo em Israel era que cada tribo possuía suas peculiaridades e não havia uma homogeinização da cultura e diante da opressão de outros povos, muitas lutas foram travadas para se manter e fortificar esse sentimento de liberdade. Pouco se sabe acerca da rotina do povo diante do tribalismo, o que se sabe é que era um sistema que primava pela distribuição justa, divisão social e de trabalho com justiça e que não se defendia a concentração de terras e com isso, a maioria tinha onde morar. O ponto principal do tribalismo é que o seu foco é a estruturação familiar, por isso é organizado conforme os nomes das linhagens de Israel, veja o que Schwantes diz sobre o tribalismo:
“O tribalismo é igualitário, porque tudo é decidido nas famílias. Aí todos têm o que comer, participam da sociedade em suas possibilidades. Há lugar para os meninos e as meninas no pastoreio, para os anciãos na transmissão do saber, para as mulheres na casa e na produção, para os estrangeiros integrados às famílias, para os homens no trabalho do campo. Todos produziam, consumiam e defendiam esta sociedade. Porém, havia também desigualdades que no momento inicial ainda não aparecem muito fortes mas que podiam reaparecer em algum momento de mudanças sociais de produção: os anciãos decidiam fortemente, os homens dominavam as mulheres, havia inclusive escravos. Em condições especiais e novas, estas tensões poderiam reaparecer em termos de conflitos sociais internos. Isso nos leva a perguntar pela origem da monarquia a partir deste projeto igualitário tribal, ao redor do ano de 1050 a. C.” (SCHWANTES, Breve História de Israel, Editora Oikos, 2008, p. 16, 17)
Na visão de Bright[2], apesar de possuir essas características, era marcada pro diversas fraquezas e para o autor, é surpreendente que essa sociedade tenha sobrevivido tanto tempo, pois era uma forma de governo sem coesão para desenvolver ataques ofensivos e com exceção de Débora, adotava uma característica mais passiva, ou seja, atuava mais de forma defensora, para manter suas terras e nesse período, Israel não foi marcada com o acréscimo de nenhum novo território. Durante esse período tribal pós Josué, os Juízes atuavam como legisladores de Israel e a história não é uniforme e homogênea, pois a Bíblia acaba enfocando mais no território de Judá, Dã e Israel como um todo.
Outro aspecto que Bright levanta sobre a ineficiência do tribalismo era o fato de que ele não era capaz de conter os conflitos entre as tribos e de insistir na pureza do Javismo e com isso, ante a uma batalha iminente com algum inimigo, não havia forças para se unificar e resistir. Apesar desses problemas existentes a liga tribal sobreviveu durante quase duzentos anos e essa só pode acontecer devido aos pontos que foram levantados acima por Schwantes e além do fato de que para os verdadeiros Israelistas, a formação de um estado nacional era uma verdadeira heresia, pois Yahweh era soberano de seu povo e muitos desses líderes o fazia lembrar que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó os libertara do Egito e com isso não havia necessidade de se ter um soberano além do Senhor que legislasse sobre Israel.

Questões que se ponderou para instituir a monarquia

A monarquia em Israel foi aconteceu do dia para a noite, antes foi um movimento que foi sendo cogitado na medida em que o sistema tribal apresentou inúmeras deficiências e vamos ver além delas, outros fatores que levaram a Israel e clamar por um rei.

Fatores Econômicos
Antes, quando Israel apresentava uma cultura nômade e semi nômade, eles viviam da caça e da agricultura, além da criação de gado de pequeno porte como ovelhas e lobos e com o avanço da conquista de terras, Israel passou a adotar uma cultura pecuarista, sendo que para essa criação de gado era necessário grandes extensões de terra e no caso de algum ataque, o gado precisava ser protegido, pois segundo Schwantes, no caso de uma fuga, o cereal e ovelhas, eram fáceis de se ajuntar e fugir, o que não acontece com o gado. Sobre esse desenvolvimento da atividade pecuarista, podemos acompanhar os textos de Êxodo 21.29-22.4. Sobre esse texto de Êxodo, a pecuária em Israel ainda era bem embrionária, mas a partir da monarquia era vista como grande expansão de mercado, tanto é verdade que quando Saul foi instituído rei foi para proteção do gado, conforme pode-se ver em 1Samuel 11 a monarquia virá sobre o gado, ou seja, quando Saul esquarteja o gado dizendo que assim se fará aos bois daqueles que não o seguirem, mostrou que este grupo, eram poderosos e para toda monarquia, deve se estabelecer apoiada numa economia forte. Schwantes faz uma severa crítica sobre a valorização do gado em Israel.
“O gado tira espaço do povo. Na outra ponta do processo socioeconômico, em que aparece o gado, está o pobre, o escravo, a escrava, como também se vê em Êxodo 21-23. O gado precisa de comida e de espaço. Isso é o que é tirado da comida e da terra dos que são feitos pobres. No final do século 11, havia pobres e não eram poucos, como se vê em Êxodo 21-23, e também em Juízes 9.4 e 11.3 que menciona “homens miseráveis e vagabundos”, e em 1Samuel 22.2 que fala de “endividados e amargurados”. Também a pobreza é uma fonte do estado.” (SCHWANTES, Breve História de Israel, Editora Oikos, 2008, p. 20)
Outra ameaça que Israel poderia proporcionar era sobre uma rota comercial secundária, pois como as tribos ocupavam a região das montanhas, estas não eram um atrativo prioritário, já que o litoral era caracterizado como a melhor rota, mas Jerusalém, principalmente, ficava no caminho que cruzava o leste-oeste e norte-sul, com isso, poderia se escoar principalmente o ferro, por esses caminhos.

A Crise dos Filisteus e o fracasso da organização Tribal
Não se pode entender Israel, sem antes entender seus dominadores e para esse período, o dominador mais expressivo foram sem dúvida, os filisteus. Eles eram formados por cinco cidades (Gaza, Asdode, Ecrom, Gate e Ascalom – 1Samuel 6.17) situadas a leste da região de Judá, estas possuíam uma forma independente de se governarem, mas eram extremamente articuladas quando sob ameaça de guerra e todas possuíam um “senhor” que supervisionava o cultivo das terras anexadas. Possuíam uma concorrência comercial com os fenícios.
Nos dias de Sansão, os filisteus já eram uma ameaça a Israel, ao mesmo tempo em que o sistema tribal e religioso estava extremamente enfraquecido e desacreditado em Israel nos dias de Eli, o profeta e isso gerou mais um motivo para o povo clamar por um rei.
Outro aspecto importante sobre os filisteus, é que eles não eram numerosos, mas formavam uma aristocracia militar tremendamente poderosa, que segundo Bright, governava uma população predominantemente canaanita e com isso eles formavam uma elite de guerreiros possuidores de uma longa tradição militar.
Os filisteus também possuíam o domínio pleno do ferro forjado, tanto que Bright descreve a armadura de Golias de forma bem peculiar.
“A armadura de Golias (1Sm 17.5-7) era, provavelmente, incomum apenas no seu tamanho. A arma ofensiva descrita (a lança) era revestida com ferro. Quanto à sua espada, não havia “nenhuma igrau” (1Sm 21.9. Sobre as armas dos filisteus, cf. Y. Yadin, The art of Warfare in Biblical Lands, McGraw-Hill Book Company, Inc., 1963, vol. II, pp. 248-253. 336-345, 354ss.” (BRIGHT, John, História de Israel, 1978, Editora Paulus, p. 239)
Quando os filisteus dominaram Israel, estes foram proibidos de fabricar qualquer tipo de arma e de material que utilizasse o ferro, para confecção de utensílios agrícolas, era necessário descer a região dos filisteus e solicitar que os seus ferreiros as confeccionassem cf. 1Sm 13.19-22.
Outro ponto que favoreceu ao enfraquecimento da instituição tribal em Israel, fora batalha de Silo, onde os Judeus levaram a arca até a área de combate, na esperança de que ela pudesse trazer sorte a Israel e por fim eliminarem com o opóbrio que estavam sofrendo, mas o exército israelita fora dizimado, a arca fora seqüestrada e os filhos de Eli, Ofini e Finéias (sacerdotes sacerdotes que transportavam a arca), foram mortos cruelmente e o templo da liga tribal fora completamente destruído e com isso, os Israelitas viram suas esperanças dizimadas e cada vez mais se aprofundou a crise do sistema de governo tribal. Com esse ataque, os filisteus estabeleceram bases em Israel, instalando suas guarnições conforme pode ser em 1Samuel 10.5-13.

O último da antiga ordem: Samuel
Diante dessa situação, não havia como manter o sistema tribal, mas Samuel foi a última tentativa em se manter esse sistema em Israel e de certa forma ele obteve sucesso, pois durante a sua gestão não se falou em monarquia, apesar das tentativas implementadas por Abimeleque (Juízes 9), Jefté (Juízes 11-12) e o povo que tentara coroar Gideão, mas sem sucesso (Juízes8.22-35).
Os nomes de Eli e Samuel são citados no livro de Juízes, porém os primeiros capítulos de 1 Samuel (1.1-8-22) são considerados como uma introdução à narrativa a respeito do primeiro rei de Israel. (Samuel J Schultz, Historia de Israel no Antigo Testamento, p. 75)
Samuel assume uma postura muito singular na história de Israel, justamente por ser um profeta que vive a transição e os primeiros capítulos de 1 Samuel servem de pano de fundo para a institucionalização da monarquia em Israel e esse período segundo Schultz, pode ser distribuído da seguinte forma:

I. Eli como sacerdote e juiz 1 Sm 1.1-4-22
Nascimento de Samuel 1 Sm 1.1-2-11
Serviço do Tabernáculo 1 Sm 2.12-26
Duas advertências a Eli 1 Sm 2.27-3.21
Juízo sobre Eli 1 Sm 4.1-22
II. Samuel como profeta, sacerdote e juiz 1 Sm 5.1-8.22
A arca restituída a Israel 1 Sm 5.1-7.2
Ressurgimento e vitória 1 Sm 7.3-14
Sumário do ministério de Samuel 1 Sm 7.15-8.3
A petição de um rei 1 Sm 8.4-22
III. liderança transferida a Saul 1 Sm 7.15-8-3
Samuel unge a Saul privadamente 1 Sm 9.1-10.16
Saul escolhido por Israel 1 Sm 10.17-27
Vitória sobre os amonitas 1 Sm 11.1-11
A inauguração pública de Saul 1 Sm 11.12-12.25
Samuel era filho de Ana e conforme diz o texto bíblico, ela não podia gerar filhos e orou a Deus fazendo um voto do nazireato para Samuel, caso Deus atendesse sua petição, isso pode ser confirmado em 1Samuel 1.11 e com isso, Samuel em sua juventude se torna pupilo de Eli, logo após o seu chamado, Silo cai perante o ataque filisteu e Samuel retorna para Rama, seu local de origem, a partir daí o povo o conclama como sacerdote, profeta e juiz sobre Israel. Este personagem é considerado por muitos o sucessor e remanescente dos juizes especificamente dos juizes menores (10.1-5).
Pouco se tem em relação ao período de ocupação filistéia, o que se sabe é que antes do fim do domínio, Samuel já era avançado em idade e não possui um sucessor a sua altura conforme pode se ver em 1Samuel 8.4-6, mesmo diante disso Samuel possuía a esperança no fim do domínio filisteu e possuir um substituto que pudesse voltar a conciliar a religião judaica que já estava bastante desacreditada.
Samuel foi o cabeça do movimento profético anti-monarquia, pois ele via as conseqüências desastrosas que ia sobrevir para o povo e que com a sua instituição, o aumento do abismo entre Yahweh e seu povo e como se fosse um retorno ao Egito.

Assuntos que levaram os Israelitas a escolher um rei

Entre muitos assuntos que levaram Israel a escolher um rei estão:
• Defesa contra os inimigos
• Exercer a justiça na prática
• Estabelecer a burocracia administrativa (impostos para manutenção do exército)
• Organização da produção
Esses são alguns pontos que entraram em debate antes que fosse escolhido o rei (1 Sm 8.10-22), mas a grande ironia nisso tudo era o fato de que esse exército era unicamente para proteger não a nação da dominação, mas proteger o gado, pois como vimos no tópico sobre a questão econômica, a “burguesia” israelita precisava proteger seu bem mais precioso, mas para unificar a nação e formar um exército profissional, necessitava de uma liderança forte, mas que fosse comprometida com esse ideal. Por isso que a questão sobre a instituição do primeiro rei é bem obscura.
• No primeiro momento o rei é escolhido por unção (1 Sm 9.16)
• Mas em outro momento, por sorteio (1 Sm 10.20, 21)
• E em outro por aclamação (1 Sm 11. 15), esta é considerada a mais antiga e provavelmente a mais real.
Sendo a aclamação a tese mais aceita, quem o aclamou, o povo? Mas que povo? Schwantes afirma que esse povo eram justamente os criadores de gado. Outra questão que fica em aberto é sobre a vontade de Deus sobre o regime, mas aponta os problemas que essa escolha poderia provocar.
Crítica em relação ao regime monárquico
O movimento profético fora veemente contra a imposição da monarquia sobre o povo, justamente porque ele fora estabelecido para favorecer uma minoria rica e abastada enquanto que o povo era tributado e oprimido pelo sistema real, conforme podemos ver no gráfico abaixo sobre as funcionalidades de cada grupo.
Antes no sistema tribal, tudo era repartido com todos e assim, uma socialização da produção, na monarquia, havia a concentração de renda nos palácios, pois o povo era tributado para sustentar o exército, a família real e todo o grupo ocioso da corte. Interessante verificar que no reinado de Salomão, não houve nenhuma guerra externa, pelo contrário, fora o governo mais diplomático de toda Israel, entretanto, ele possuiu um exército muito maior e melhor que o de seu pai, Davi. Em contra partida, foi onde mais houve manifestações e revoltas internas, esse exército, que era sustentado pelo povo, servia unicamente para lutar contra o próprio povo. Outro dado sobre o governo de Salomão, é que nele o abismo social era muito grande e intenso, mas fora onde a suntuosidade do seu palácio e templo era admirada no mundo conhecido.
Na monarquia, houve a necessidade de se centralizar o culto na cidade do rei, ou seja, na capital e com isso mostrar que o rei era representante de Deus na terra e suas decisões estavam de acordo com a vontade de Deus. O templo também serviu para calar a voz dos revoltosos e assim diminuir a intensidade dos conflitos, pois Israel passara a depositar cada vez mais suas esperanças no templo. O profeta Jeremias criticou essa postura de Israel, quando diz:
“O SENHOR Deus mandou que eu fosse ao portão do Templo, aonde o povo de Judá estava indo para a adoração. Ele mandou que eu ficasse ali e anunciasse ao povo a mensagem do SENHOR Todo-Poderoso, o Deus de Israel. A mensagem era esta: — Mudem de vida, mudem a sua maneira de agir, e eu deixarei que vocês continuem vivendo aqui.
Não confiem mais nestas palavras mentirosas: “Nós estamos seguros! Este é o Templo do SENHOR, este é o Templo do SENHOR, este é o Templo do SENHOR!”
— Mudem de vida e parem de fazer o que estão fazendo. Sejam honestos uns com os outros.
Parem de explorar os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Não matem mais pessoas inocentes neste lugar. E parem de adorar outros deuses, pois isso vai acabar com vocês.
Se vocês mudarem de vida, eu deixarei que continuem morando aqui, na terra que dei para sempre aos seus antepassados.
— Vejam! Vocês estão confiando em palavras mentirosas e sem valor.
Vocês roubam, matam, cometem adultério, juram para encobrir mentiras, oferecem sacrifícios a Baal e adoram outros deuses que vocês não conheciam no passado.
Fazem coisas que eu detesto, depois vêm e ficam na minha presença, no meu próprio Templo, e dizem: “Nós estamos seguros!”
Será que vocês estão pensando que o meu Templo é um esconderijo de ladrões? Eu tenho visto o que vocês estão fazendo. Sou eu, o SENHOR, quem está falando.
Vão a Siló, o primeiro lugar que escolhi para nele ser adorado, e vejam o que eu fiz ali por causa da maldade de Israel, o meu povo.
Vocês têm cometido todos esses pecados de que falei. Eu os avisei muitas e muitas vezes, mas vocês não quiseram me ouvir; e, quando eu chamei, não me responderam. Sou eu, o SENHOR, quem está falando.
Por isso, a mesma coisa que fiz com Siló vou fazer com este meu Templo em que vocês confiam. O que fiz em Siló vou fazer neste lugar que dei a vocês e aos seus antepassados.” Jeremias 7.1-14 (NLTH)
Nesse texto Jeremias faz referência ao que aconteceu em Silo nos tempos de Eli e as conseqüências que isso trouxe ao povo de Israel, por depositar toda sua confiança no templo e opressão instituída pela monarquia. Outro texto de Jeremias faz referência a esse acontecimento em Silo, mas o movimento profético não fora bem aceito pelo povo, pois como era uma voz de protesto, muitos foram mortos por falarem contra o rei e seu paganismo e o paganismo do povo.
“Deus me mandou dizer ao povo o seguinte: — Eu, o SENHOR, disse que vocês devem me obedecer e seguir o ensino que lhes dei.
Escutem o que os meus servos, os profetas, dizem. Eu sempre os tenho enviado, mas vocês não têm obedecido às suas palavras.
Se vocês não escutarem, eu farei com este Templo o mesmo que fiz com Siló; e todas as nações do mundo usarão o nome dessa cidade para rogar pragas.
Os sacerdotes, os profetas e todo o povo me ouviram dizer essas coisas no pátio do Templo.
Logo que acabei de falar tudo o que o SENHOR tinha mandado, os sacerdotes, os profetas e o povo me agarraram e gritaram: — Você vai morrer por causa disso!” Jeremias 26.4-7 (NTLH)
Com isso, o culto a Yahweh fora se perdendo dando lugar ao dogmatismo judaico e ratificando a opressão aos mais simples e pobres e paganizando o templo, pois cada vez mais Israel fora acrescentando novos símbolos a sua cultura, símbolos que foram proibidos por Yahweh e com isso diversos profetas fizeram alertas ao povo para que voltassem para os caminhos do Senhor. Esse profetas se tornaram a voz da revolução contra a monarquia e uma defesa em favor do tribalismo teocrático, inclusive vemos essa característica nos ministérios de João Batista e Jesus, por causa dessa mensagem, foram mortos.

Por causa da imaturidade do povo, acabou-se escolhendo um sistema que iria trazer mais opressão e escravidão, um povo que nunca esqueceu o que era ser escravo, escolhe servir a um senhor imperfeito e impuro e com isso se afastar cada vez mais do Senhor Yahweh que os libertara da opressão do Egito e os trouxera à terra de descanso.

LEIA MAIS

http://ebdbelasartes.blogspot.com/2015/04/licao-05-instauracao-da-monarquia-em.html

FONTES DE PESQUISA

https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2016/06/teocracia-estudos-biblicos.html
https://nebpibpa.wordpress.com/2009/01/07/primeiros-passos-para-a-monarquia/

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